A Importancia da Taxa de Encaminhamento na Selecao de Equipamentos de Rede

Introdução

A taxa de encaminhamento (ou forwarding rate) é central para engenheiros de redes, projetistas OEM e equipes de manutenção que precisam garantir desempenho determinístico em ambientes industriais e de datacenter. Neste artigo abordamos taxa de encaminhamento, packets per second (pps), throughput, line-rate e como medir e aplicar essas métricas em decisões de compra e aceitação. Usaremos termos e normas técnicas relevantes (ex.: IEC/EN 62368-1, IEC 60601-1) e conceitos de engenharia como PFC e MTBF quando pertinentes às soluções de alimentação e disponibilidade de equipamentos.

A proposta é técnica e prática: você terá definições precisas, fórmulas de conversão, procedimentos de teste com ferramentas como IXIA, Spirent, pktgen e TRex, e um roteiro para transformação desses resultados em uma RFP e plano de aceitação. O público-alvo são profissionais que precisam traduzir requisitos de aplicação (VoIP, vídeo, storage, NFV) em números concretos de pps e Gbps para seleção e operação de switches, roteadores e appliances.

Ao longo do texto usaremos listas, negrito para termos críticos e parágrafos curtos para facilitar leitura técnica. Sinta-se convidado a comentar, questionar e compartilhar casos práticos no final — sua interação enriquece a validação prática dos métodos propostos.

Entenda a taxa de encaminhamento (taxa de encaminhamento / forwarding rate / capacidade de encaminhamento)

O que é e por que importa

A taxa de encaminhamento (forwarding rate) é a capacidade de um equipamento de rede de processar e encaminhar pacotes por segundo (pps) sem perda ou degradação. Ela difere de throughput (medido em Mbps/Gbps) porque throughput considera volume de bits por segundo enquanto pps reflete a taxa de operações de encaminhamento — crítico quando há muitos pacotes pequenos.

Unidades e medidas padrão

As unidades comuns são pps, Mbps/Gbps, flows/sec; distinções importantes: line‑rate indica capacidade máxima no meio físico (por exemplo, 1 Gbps, 10 Gbps) enquanto forwarding‑rate indica capacidade de encaminhar pacotes no plano de dados sob características reais de tráfego. O tamanho do pacote altera dramaticamente pps: um link de 10 Gbps processará muito mais bytes por segundo com pacotes de 1500 B do que com 64 B.

Fórmulas e exemplos rápidos

Uma fórmula prática (simplificada) para converter Gbps → pps:
pps ≈ (Gbps 10^9) / (8 (packet_size_bytes + overhead_bytes))
Considere overhead_bytes ≈ 20 (MAC/CRC/preamble/IFG podem ser incluídos conforme precisão exigida). Exemplo:

  • 10 Gbps com 64 B (usando overhead 20 B): pps ≈ (10e9)/(8*(64+20)) ≈ 16,4 Mpps.
  • 10 Gbps com 1500 B: pps ≈ (10e9)/(8*(1500+20)) ≈ 820 kpps.
    Esses cálculos mostram por que muitos fabricantes anunciam Gbps e não pps — para tráfego de pacotes pequenos, o ponto limitante é o pps, não Gbps.

Transição: depois de entender o que é e como medir, veremos por que isso determina escolhas de hardware e SLA.

Avalie por que a taxa de encaminhamento importa na seleção de equipamentos de rede

Impacto em latência, jitter e perda

A capacidade de encaminhamento afeta latência, jitter e perda de pacotes. Quando um equipamento atinge limite de pps ou fica sem headroom em buffers, filas aumentam e causam jitter e perda, degradando aplicações sensíveis como VoIP e controle industrial. A taxa de encaminhamento condiciona diretamente a garantia de SLAs.

Efeito em CAPEX/OPEX e arquitetura

Escolher equipamento com pps insuficiente pode forçar oversubscription, upgrades frequentes ou redes mais complexas que aumentam CAPEX e OPEX (consumo energético, refrigeração e espaço em rack). Em cenários com bursts, é preciso prever headroom (por exemplo 20–50% acima do pico esperado) para evitar degradação. A escalabilidade de portas e uplinks impacta custo total de propriedade.

Cenários e requisitos por aplicação

Diferentes aplicações traduzem-se em requisitos distintos:

  • VoIP: muitas sessões pequenas → alto pps.
  • Vídeo streaming: altos Gbps, menores pps por fluxo.
  • Storage (iSCSI/NFS): mix de pacotes médios e estados TCP.
  • NFV/microservices: grande número de flows e estados.
    Mapear a aplicação para pps/throughput é essencial para selecionar ACLs, TCAM e capacidades de stateful processing.

Transição: tendo estabelecido por que importa, vamos aprender a medir e validar capacidade real.

Meça e interprete a capacidade real: ferramentas, perfis de teste e leitura de resultados (pps, throughput, flows)

Ferramentas de teste e geração de tráfego

Ferramentas robustas: IXIA, Spirent (equipamentos comerciais com suporte a testes RFC), e ferramentas open-source/performance como pktgen, Ostinato, TRex. Escolha com base em necessidade de geração de pps, modelos de fluxo e suporte a encapsulamentos (VXLAN, GRE, MPLS).

Projetando perfis de teste e setup de laboratório

Projete perfis com:

  • tamanhos de pacote (64 B, 128 B, 512 B, 1500 B, jumbo frames),
  • mix TCP/UDP e direcionalidade (uni/bi‑direcional, east‑west vs north‑south),
  • estados (estabelecido vs new flows).
    No laboratório, configure oversubscription nos uplinks, capture contadores ASIC/CPU, monitore filas/queues e latência com timestamps. Documente topologia, versões de firmware e flags de offload.

Interpretação de resultados e identificação de gargalos

Compare resultados com claims do fabricante; observe diferenças entre line‑rate e forwarding sob features (NAT, ACLs, DPI). Identifique gargalos por sintomas:

  • pps limitado: CPU/soft‑path ou hardware não dimensionado;
  • latência em bursts: buffers insuficientes;
  • queda ao habilitar features stateful: TCAM/CPU saturado.
    Use counters (drops, interrupt rates, ASIC errors) para localizar a causa.

Transição: com dados de teste em mãos, vamos aplicar esses resultados ao processo de seleção.

Use a taxa de encaminhamento para comparar e selecionar equipamentos de rede: checklist, cálculos e matriz de decisão

Mapear requisitos a cálculos e headroom

Comece coletando requisitos de negócio (número usuários, tipos de tráfego, picos). Use fórmulas para estimar pps por aplicação e some para obter pps agregada. Aplique um fator de segurança (headroom) — tipicamente 20–50% — e dimensione uplinks e portas. Exemplo: 10.000 devices IoT enviando 64B a 1 pkt/s → 10 kpps minimal; multiplique para picos e failover.

Checklist mínimo para seleção

Checklist obrigatório:

  • pps máximo por porta e por chassis (line‑rate para 64B e para 1500B)
  • capacidade de TCAM (nº de entries) e tamanho de tabelas de fluxo
  • funcionalidades stateful (NAT, ACLs, DPI) e impacto em pps
  • latência e jitter em testes reais
  • suporte a offloads e encapsulamentos (VXLAN, MPLS, GRE)
  • consumo elétrico e MTBF, conformidade com IEC/EN para ambientes críticos
    Inclua cláusulas de teste de terceiro e pps garantido na RFP.

Matriz de decisão e custos

Monte matriz comparando:

  • claims do vendor (pps, Gbps) vs resultados de testes independentes,
  • CAPEX total (equipamento, licenças) vs OPEX (energia, refrigeração),
  • escalabilidade (slots, MLAG, stacking),
  • suporte a features futuras (P4, SmartNIC).
    Pese custos e risco operacional; às vezes um switch com pps maior reduz custos de oversubscription e simplifica arquitetura.

Transição: antes de decidir, examinemos nuances técnicas que podem invalidar comparações simples.

Domine as nuances avançadas: ASIC vs CPU, TCAM, offloads, encapsulamentos e erros comuns na interpretação da taxa de encaminhamento

ASIC vs CPU e o caminho do plano de dados

Encaminhamento realizado no ASIC opera a altas taxas (Mpps lineares). Quando pacotes são desviados para a CPU (por controle, exceções, ou falta de suporte a feature), o pps despenca. Muitos recursos stateful (Deep Packet Inspection, NAT massivo) podem cair no path de CPU se não existirem offloads/hardware dedicado.

TCAM, offloads e encapsulamentos

TCAM limita o número de ACLs, rotas ou fluxos suportados em hardware — valores típicos variam muito (k dezenas a centenas de milhares de entries). Offloads como checksum, LRO/GRO, GSO e SmartNICs (SR‑IOV, DPDK offload) podem reduzir carga de CPU. Encapsulações como VXLAN, GRE, MPLS aumentam o custo por pacote (mais bytes processados e manipulação de headers), reduzindo pps eficaz.

Erros comuns e armadilhas de comparação

Erros frequentes:

  • confiar apenas em Gbps anunciados sem testar pps em 64B;
  • não testar com cargas stateful/estabelecidas;
  • ignorar contadores de hardware (drop, TCAM full, CPU interrupts);
  • negligenciar efeitos de NUMA ou interrupts em servidores/VMs.
    Teste sempre com firmware e configuração final de produção.

Transição: com esses cuidados, finalize sua estratégia de compra e plano de aceitação.

Defina a estratégia final: plano de teste de aceitação, critérios de compra e tendências que afetam a taxa de encaminhamento

Runbook de Acceptance Testing e métricas obrigatórias

Runbook deve incluir casos obrigatórios:

  • teste de pps para 64 B, 512 B e 1500 B,
  • teste com features ativadas (ACL, NAT, VXLAN),
  • medição de perda (0,01% thresholds), latência máxima e jitter,
  • verificação de contadores ASIC/CPU, temperatura e consumo.
    Padronize scripts (pktgen/TRex) e relatórios com evidências (pcap, counters).

Cláusulas contratuais para RFP e monitoramento contínuo

Inclua na RFP: pps garantido por packet_size, testes por 3ª parte, SLA para regressão, penalidades por não conformidade. Para operação, defina KPIs contínuos: packet loss, interface errors, queue occupancy, latency/jitter, e telemetria (sflow, NetFlow, gNMI). Planos de upgrade devem prever rollback seguro e testes de regressão.

CTA: Para aplicações que exigem robustez e garantia de encaminhamento em ambientes industriais, a família de switches industriais da IRD.Net oferece testes e certificações adequados — confira nossa linha em https://www.ird.net.br/switches-industriais

Tendências que influenciam a taxa de encaminhamento

Tendências que mudarão a forma de projetar encaminhamento:

  • Programmable ASICs (P4) permitindo offloads customizados,
  • SmartNICs e offloads de criptografia (TLS) reduzindo carga no dataplane,
  • crescimento de criptografia de ponta a ponta (impactando inspeção in‑line),
  • in‑network computing (processamento distribuído em switches).
    Planeje compras com margem para adoção dessas tecnologias.

CTA: Se sua arquitetura exige aceleração via SmartNICs ou roteadores com offload, conheça nossas soluções de roteamento industrial em https://www.ird.net.br/roteadores-industriais

Conclusão

A taxa de encaminhamento é uma métrica determinante para a seleção e operação de equipamentos de rede em ambientes industriais e de datacenter. Dominar pps, throughput, TCAM e o comportamento sob features stateful permite tomar decisões de arquitetura que equilibram CAPEX, OPEX e SLA. Use práticas de teste padronizadas, inclua requisitos claros na RFP e mantenha monitoramento contínuo com KPIs bem definidos.

Agora é sua vez: quais perfis de tráfego você enfrenta (tamanhos de pacotes, número de flows, picos)? Compartilhe nos comentários e podemos sugerir um template de RFP ou um script TRex/pktgen adaptado ao seu caso. Para mais artigos técnicos consulte: https://blog.ird.net.br/

Incentivo à interação: comente abaixo suas dúvidas ou peça que eu gere o template de checklist/RFP ou exemplos numéricos adaptados ao seu ambiente.

Foto de Leandro Roisenberg

Leandro Roisenberg

Engenheiro Eletricista, formado pela Universidade Federal do RGS, em 1991. Mestrado em Ciências da Computação, pela Universidade Federal do RGS, em 1993. Fundador da LRI Automação Industrial em 1992. Vários cursos de especialização em Marketing. Projetos diversos na área de engenharia eletrônica com empresas da China e Taiwan. Experiência internacional em comercialização de tecnologia israelense em cybersecurity (segurança cibernética) desde 2018.

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