Entenda Dimensionamento de Redes

Introdução

O dimensionamento de redes e a capacidade de rede são disciplinas essenciais para garantir desempenho, disponibilidade e custo-efetividade em ambientes industriais e corporativos. Neste guia técnico você encontrará conceitos fundamentais, métricas (throughput, latência, jitter, perda), metodologias de monitoramento (SNMP, NetFlow, sFlow), e práticas para o dimensionamento de links e cálculo de banda. O objetivo é equipar engenheiros eletricistas, projetistas OEM, integradores e gerentes de manutenção com ferramentas práticas e critérios técnicos para projetar redes robustas e escaláveis.

Vamos cobrir desde definições e razões econômicas para provisionamento adequado até cálculos passo a passo, exemplos numéricos, estratégias de QoS, e um plano de ação completo para implantação e monitoramento contínuo. Ao longo do texto citaremos métricas de confiabilidade como MTBF, conceitos elétricos aplicáveis a infraestrutura (PFC, fontes de alimentação) e normas de produto quando pertinente. Para mais artigos técnicos consulte: https://blog.ird.net.br/.

Sinta-se à vontade para interromper a leitura e comentar dúvidas técnicas — este artigo foi pensado para ser um documento vivo; perguntas de campo, exemplos reais e solicitação de planilhas/calculadoras serão incorporadas em atualizações futuras.

Entenda o que é dimensionamento de redes e métricas fundamentais (dimensionamento de redes, capacidade de rede)

Definição e escopo

O dimensionamento de redes é o processo de determinar os recursos necessários (capacidade de enlace, dispositivos de encaminhamento, buffers, segurança) para satisfazer requisitos de tráfego e níveis de serviço (SLA). Inclui análise de demanda, cálculo de largura de banda, seleção de topologia e definição de políticas de QoS. Em termos práticos, trata-se de garantir que a rede suporte cargas de trabalho esperadas com margem para picos, falhas e crescimento.

Métricas essenciais

As métricas que norteiam decisões de projeto são: throughput (taxa útil observada), banda (capacidade do enlace), latência (tempo de ida/volta), jitter (variação de atraso), perda de pacotes, e taxa de erro. Também são relevantes indicadores de disponibilidade (porcentagem de uptime), MTBF/MTTR para elementos ativos e indicadores de qualidade percebida (MOS para voz/video). Essas métricas influenciam escolha de enlaces, QoS e políticas de redundância.

Terminologia e relação com capacidade

Entender distinções é crítico: capacidade de link é o máximo teórico (por ex., 1 Gbps), enquanto throughput é o real observável após overhead (Ethernet headers, TCP/IP, VPN, FEC). Overhead pode consumir de 2% a 20% dependendo de encapsulamentos (GRE, IPsec) e políticas. Ao definir capacidade de rede, sempre aplique um fator de eficiência para converter largura de banda nominal em capacidade útil projetada.

Avalie por que o dimensionamento de redes importa para performance e custos (provisão de capacidade, SLA, dimensão de banda)

Consequências do under/overprovisioning

O underprovisioning gera perda de pacotes, latência elevada e falhas em SLA, afetando aplicações críticas (SCADA, VoIP, vídeo). O overprovisioning aumenta CAPEX e OPEX desnecessários. A escolha errada impacta produtividade, processos de manufatura e pode provocar penalidades contratuais. Trade-offs entre disponibilidade e custo devem ser quantificados com modelos financeiros simples (TCO/ROI).

Impacto em SLA e experiência do usuário

SLA deve mapear métricas técnicas (latência < 50 ms, perda < 0.1%) em KPIs de negócio. Para vídeo, p.ex., jitter > 30 ms pode degradar a decodificação; para IoT sensível a tempo real, latência determinística é crítica. Mapear aplicações ao perfil de tráfego permite priorizar tráfego via QoS e definir limites de provisionamento. Use percentis (95º/99º) para dimensionar sem superdimensionar por picos raros.

CAPEX vs OPEX e casos práticos

Decisões de capacidade afetam CAPEX (links de maior capacidade, hardware) e OPEX (consumo, manutenção, licenças). Exemplo: backup offsite pode tolerar janelas noturnas diminuindo necessidade de link permanente alto; streaming de vídeo exige links contínuos. Para ambientes industriais, considere também normas e segurança física/eletromagnética aplicáveis a infraestrutura de rede (seu gabinete, aterramento, fontes com PFC e conformidade com IEC/EN 62368-1 quando integrar subsistemas).

Meça e modele a demanda: coleta de dados e metodologia de análise (monitoramento, modelagem de tráfego, NetFlow, sFlow)

Métodos práticos de coleta

Coleta confiável é o alicerce: combine SNMP (ifInOctets/ifOutOctets), NetFlow/sFlow/IPFIX para granularidade por fluxo, e packet capture (pcap) para análise de aplicação/headers. Configure amostragem adequada (sFlow 1:1000 por padrão) e retentividade de dados para captar sazonalidade. Ferramentas recomendadas: ntopng, IPFIX/Flow-tools, Prometheus + exporters, e soluções comerciais APM/NPM para ambientes críticos.

Elaboração de perfis de tráfego

Construa perfis por VLAN, aplicativo e horário: baseline (média diária), janelas de pico e eventos sazonais. Use histograma de utilização e percentis (p.ex. 95º/99º) para caracterizar picos. Para cada perfil registre: throughput médio, picos, latência observada, composição de protocolo (TCP/UDP), e percentual de tráfego cifrado (VPN/TLS), pois impacts overhead.

Amostragem, sazonalidade e baseline

Decida janela de coleta (mínimo 2-4 semanas em ambientes com variabilidade; até meses para indústria sazonal). A amostragem reduz carga de processamento, mas deve preservar picos críticos. Defina baseline operacional e cenários: normal, pico diário, pico extraordinário (ex.: evento corporativo). Documente hipóteses para cálculos futuros e mantenha logs para auditoria de SLA.

Como dimensionar links e capacidade na prática: passo a passo com cálculos e exemplos (dimensionamento de links, cálculo de banda, throughput)

Fórmulas e percentis

Uma fórmula prática: R = (Tpeak × Fmargem) / Eficiencia, onde:

  • R = capacidade requerida (Gbps)
  • Tpeak = throughput no percentil escolhido (p.ex. 95º)
  • Fmargem = fator de margem (1.2–1.5 dependendo do risco)
  • Eficiencia = 0.85–0.98 (considerando overhead e encapsulamentos)
    Exemplo: Tpeak=600 Mbps (95º), Fmargem=1.3, Eficiencia=0.9 => R ≈ (600×1.3)/0.9 ≈ 867 Mbps → link 1 Gbps.

Exemplos numéricos LAN/WAN/Internet

  • LAN: agregação de 3 segmentos com médias 200/150/250 Mbps; pico agregado 650 Mbps. Aplicando margem 1.25 e eficiência 0.95 => R ≈ (650×1.25)/0.95 ≈ 855 Mbps → 1 Gbps.
  • WAN/Internet: reporte de NetFlow mostra 95º = 80 Mbps. Para VPN IPSec com overhead ~12%, eficiência ≈0.88. Margem 1.4 => R ≈ (80×1.4)/0.88 ≈ 127 Mbps → provisionar 150–200 Mbps para crescimento.

Regras para redundância e oversubscription

  • Oversubscription: em agregação de usuários, use ratio (ex.: 10:1 em ambientes office, 3:1 para VOIP crítico). Em ambientes industriais, evite oversubscription agressiva em segmentos determinísticos.
  • Redundância: projete caminhos diversificados (diversidade física e lógica), active/standby e balanceamento. Considere SLAs e tempo de convergência (ex.: RSTP/OSPF/BGP timers) e dimensione para failure-mode (capacidade residual ≧ 50% do normal para cargas críticas).
    Para aplicações que exigem essa robustez, a série Entenda Dimensionamento de Redes da IRD.Net é a solução ideal. (CTA para página de produtos)

Detalhes avançados e erros comuns: QoS, latência, oversubscription e hardening (QoS, latência, oversubscription, redundância)

Estratégias: superprovisionamento vs QoS

Superprovisionamento simplifica operações mas é caro; QoS permite priorizar tráfego sensível (voice, control systems) economizando largura. Configure classes (Expedited Forwarding, Assured Forwarding) e dimensione buffers e policing/shaping adequadamente. Em links com alta latência inerente (satélite, MPLS), priorizar pacotes críticos é obrigatório.

Latência, jitter e impacto nas aplicações

Latência impacta protocolos interativos e sincronização de tempo em sistemas industriais. Para VoIP/telemetria, latência ponta-a-ponta ideal < 150 ms, jitter < 30 ms. Redes com alta variação exigem buffers e mecanismos de jitter buffering, mas atenção: buffers excessivos aumentam latência (bufferbloat). Monitoramento de one-way delay (OWD) e uso de PTP/NTP para sincronização são práticas recomendadas.

Erros comuns e checklist de hardening

Erros típicos: ignorar picos event-driven, não contabilizar overhead de encapsulamento/VPN, subestimar impacto de retransmissões TCP, não validar MTBF/MTTR dos equipamentos críticos. Checklist técnico:

  • Validar percentis (95º/99º) e janelas de coleta
  • Incluir overhead protocolar e VPN/FEC
  • Testar failover e convergência em laboratório
  • Implementar QoS e testar sob carga
  • Certificar fontes e equipamentos quanto a MTBF e normas (ex.: componentes com conformidade IEC/EN 62368-1 para equipamentos; observar requisitos médicos IEC 60601-1 quando aplicável)
    Evite também hardcoding de RADIUS/ACLs sem rotas de fallback e mantenha inventário de firmware/patches.

Plano de ação: implantação, validação, monitoramento contínuo e escalabilidade (provisionamento de capacidade, monitoramento contínuo, automação)

Roteiro de rollout

Siga um roteiro: piloto → validação → produção. No piloto, implemente coleta (NetFlow, SNMP), simule cargas com ferramentas (iperf3, tcpreplay) e valide QoS. Na validação, compare performance real com modelos. Documente runbooks e planos de rollback. Use ambientes de staging para mudanças que afetam roteamento ou QoS.

KPIs e políticas de revisão

Defina KPIs operacionais: utilização média e percentis, perda de pacotes, latência, taxa de retransmissão TCP, disponibilidade (SLA). Estabeleça políticas de revisão (mensal/trimestral) e gatilhos de ação (p.ex. se 95º ultrapassa 70% por 7 dias seguidos). Automatize relatórios e alertas via Prometheus/Grafana ou soluções NMS comerciais.

Automação, escalabilidade e tecnologias emergentes

Adote automação (Ansible, Netbox + CI/CD de rede) para mudanças repetitivas e "capacity-as-code". Considere SD-WAN para roteamento dinâmico de cargas e cloud-burst para picos on-demand. Planeje escalabilidade horizontal (agregação de enlaces, LAG) e vertical (upgrades de chassis). Para aplicações críticas, integre monitoramento de energia e fontes (PDU, redundância, PFC) garantindo que infraestrutura elétrica não seja o ponto único de falha — consulte as linhas de produto da IRD.Net para fontes industriais redundantes. (CTA para página de produtos)

Conclusão

O dimensionamento de redes é uma prática multidisciplinar que exige medição rigorosa, modelagem cuidadosa e planejamento de contingência. Priorize coleta de dados com NetFlow/sFlow, ajuste percentis para a realidade do seu ambiente, aplique margens técnicas e políticas de QoS onde for mais eficiente. Integre planejamento de capacidade ao ciclo de governança para transformar decisões pontuais em processo contínuo de melhoria.

Checklist final rápido:

  • Colete 2–8 semanas de dados com NetFlow/sFlow;
  • Use percentis (95º/99º) e aplique fator de margem;
  • Considere overhead de encapsulamento e VPN;
  • Teste failover e convergência; documente runbooks;
  • Automatize revisões e alertas.

Interaja: deixe suas dúvidas, compartilhe um caso real de tráfego ou solicite uma planilha de cálculo. Comentários técnicos relevantes serão respondidos e poderão virar atualizações deste guia.

Links úteis internos:

CTAs de produto:

  • Para aplicações que exigem essa robustez, a série Entenda Dimensionamento de Redes da IRD.Net é a solução ideal. (https://www.ird.net.br/)
  • Conheça linhas de fontes industriais e PDU recomendadas para ambientes críticos na página de produtos da IRD. (https://www.ird.net.br/)

Incentivo à interação: comente suas dúvidas, anexe logs (NetFlow agregados) e peça uma sessão técnica para modelagem do seu caso.

Foto de Leandro Roisenberg

Leandro Roisenberg

Engenheiro Eletricista, formado pela Universidade Federal do RGS, em 1991. Mestrado em Ciências da Computação, pela Universidade Federal do RGS, em 1993. Fundador da LRI Automação Industrial em 1992. Vários cursos de especialização em Marketing. Projetos diversos na área de engenharia eletrônica com empresas da China e Taiwan. Experiência internacional em comercialização de tecnologia israelense em cybersecurity (segurança cibernética) desde 2018.

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